Crônica - O Drama da Mente Brilhante no País do Wi-Fi Oscilante
Tem gente que acha que ser inteligente no Brasil é vantagem. Ah, que ilusão. Ser inteligente aqui é quase um castigo mitológico, tipo Prometeu acorrentado — só que, em vez de uma águia comendo seu fígado, é o call center da operadora te devorando a paciência.
A inteligência no Brasil do século 21 é uma espécie de ave rara que tenta voar em um país onde o teto é baixo e o IPTU é alto. Imagine um sujeito que leu Dostoiévski, sabe a diferença entre PIB e IPVA, e ainda é gentil com a mãe. Um prodígio. Mas aí ele vai ao mercado e encontra a oferta da carne tipo picanha, o pacote de macarrão que pesa menos e o preço é maior , e uma promoção de "pague dois, leve meio".
A vida cotidiana do brasileiro inteligente é feita de dilemas. Ele entende física, mas precisa explicar pra tia por que não dá pra fritar ovo na airfryer. Ele estuda sociologia, mas ainda assim tem que ouvir o vizinho dizer que "bandido bom é bandido morto" com a autoridade de quem tem um grupo no Zap chamado Pátria Livre.
O brasileiro inteligente anda por aí carregando uma bolsa invisível cheia de inconformismo. E ela pesa. Pesa quando ele percebe que a fila preferencial é invadida por quem não tem mais de 60 nem menos de noção. Pesa quando o ônibus vem com o letreiro “Destino: Sofrência”, e a catraca gira igual à esperança dele de um país mais racional.
Mas, veja bem, esse ser pensante não desiste. Porque, no fundo, inteligência aqui não se mede só por saber citar Platão no bar (embora ajude). Mede-se por continuar tentando melhorar as coisas mesmo quando tudo ao redor parece feito por quem largou o manual da lógica no banheiro.
Ser inteligente no Brasil é ter fé científica. É acordar cedo, pagar imposto, corrigir o português do meme e ainda votar com consciência. É rir pra não chorar. É entender que, por mais que tudo pareça absurdo, ainda há uma centelha de esperança — geralmente escondida atrás de um “desculpe, sistema fora do ar”.
Então, se você se sente um pouco deslocado no meio da bagunça, não se preocupe: é sinal de que sua inteligência ainda está funcionando. Mesmo sem Wi-Fi.
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