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Mostrando postagens de novembro, 2025

Para hoje

 Quando a visão se dissolveu em sombras, ele percebeu que não caminhava mais pelas ruas, mas por corredores de símbolos. Cada lembrança tornava-se um manuscrito medieval, iluminado por significados ocultos, e cada gesto era uma chave que abria portas para labirintos invisíveis. O mundo, antes feito de formas e cores, agora se revelava como uma trama de signos, onde o passado e o presente se entrelaçavam em enigmas que pediam interpretação. Não havia derrota: havia apenas a descoberta de que a história que o cercava era também a história que ele poderia escrever de si mesmo, como se fosse ao mesmo tempo cronista e protagonista.   Mas logo percebeu que narrar não era um ato solitário. As palavras que surgiam em sua boca ou em sua mente não lhe pertenciam inteiramente: vinham de outros tempos, de outras bocas, de outros mundos. O que chamava de “sua história” era, na verdade, uma tessitura de vozes que o precediam e o excediam. Se a cegueira lhe dera protagonismo, a linguage...