A leitura deveria ser obrigatória?
Outro dia, entre um café e o barulho da cidade que não me deixa em paz, alguém me jogou uma daquelas perguntas que parecem simples, mas que, como um novelo de lã, vão se embolando quanto mais você puxa o fio: a leitura deveria ser obrigatória? E logo veio o reforço, quase um grito de torcida: “Sim!”. Pois bem, eu, que já vivi o bastante para desconfiar de certezas, sentei-me aqui com minha máquina de escrever imaginária e resolvi dar umas voltas nessa ideia.
O “sim” tem seu charme, não vou negar. Ler é uma janela, um passaporte, uma forma de escapar da mesmice que nos engole. Quem lê não apenas decifra palavras, mas aprende a enxergar o mundo com olhos emprestados – os do autor, os da personagem, os de um tempo que não é o seu. É um exercício de liberdade, ainda que paradoxal: você se prende às páginas para se soltar da vida. Dizer que isso deveria ser obrigatório soa quase nobre, como querer que todos tenham direito a esse pequeno milagre. Imagine um Brasil onde, do Oiapoque ao Chuí, as pessoas carregassem livros como carregam celulares – seria uma revolução silenciosa, dessas que não derrubam governos, mas mudam cabeças.
Mas aí vem o outro lado, o que me coça a alma de pensador teimoso. Obrigar é uma palavra dura, cheia de arestas. Quando você obriga, tira o gosto da coisa. Ler por decreto, por imposição, é como obrigar alguém a amar ou a rir de uma piada sem graça. O livro vira um fardo, uma tarefa de escola, um castigo disfarçado de virtude. Eu mesmo, que fiz da leitura um vício, confesso que já fugi de certos volumes grossos só porque me mandaram lê-los. A magia da leitura está na escolha, no momento em que você pega um livro porque ele te chama, e não porque alguém te empurrou goela abaixo.
E tem mais: o que seria essa leitura obrigatória? Quem decide o que vale? Machado de Assis ou o manual do imposto de renda? Poesia ou autoajuda? Aí entra o risco da coisa virar uma cartilha, um currículo engessado, e a leitura, que deveria ser um voo, acaba virando uma gaiola. Sem contar que nem todo mundo tem o mesmo tempo, o mesmo acesso, a mesma disposição. Obrigar o sujeito que rala o dia inteiro e chega em casa exausto a abrir um livro pode ser menos um presente e mais uma crueldade.
Então, fico aqui, entre o sim e o não, como quem balança numa rede. Acho que a leitura deveria ser um convite, desses irrecusáveis, com cheiro de papel novo e promessa de aventura. Deveria estar em todo canto – nas escolas, nas praças, nos ônibus –, mas sem algemas. Que cada um descubra seu livro, seu autor, seu jeito de ler. Se for pra obrigar algo, que seja o direito de escolher: ler ou não ler, eis a questão. E que venham os comentários, porque, no fundo, a internet é isso: um boteco virtual onde a gente discute o que nem sempre resolve.
E você, o que acha?
📖Hismere: para quem ousa pensar fora da curva!✍️😎🧑🦯❤
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