Haicai: Do Café à Poesia
Ouvidos de cego - Como surgiu o meu primeiro Haicai? Acomode-se que lá vem história!✍️😎🧑🦯
Era uma tarde comum, dessas que se perdem na rotina sem grandes aspirações. O café, esse fiel companheiro, fumegava diante de mim, e Luciana, minha cunhada, lhe fazia companhia. Entre um gole e outro, disse-me, com a familiaridade dos que conhecem todos os mistérios da vida, sobre haicais. Poemas breves, mas com um peso capaz de rivalizar com o infinito. Como quem conta uma história trivial, ela falou dos três versos que escondem universos. Não pensei muito, mas fiquei com a palavra "haicai" ecoando na mente.
No curso dessa conversa, Luciana me apresentou o haicai de Paulo Leminski:
*"Todo ser que respira, conspira."*
O choque, o queixo caído. Era simples, claro, como um golpe de mestre. Mas o que ele me disse? Fiquei a matutar, sem respostas, só com aquela sensação de ter sido tocado por algo maior do que o simples enunciado.
E no mesmo dia, como se o destino quisesse confirmar o seu querer, ligou-me Marcel, meu amigo-irmão, um professor devoto das palavras. Falei-lhe do haicai de Leminski, e ele, como sempre, foi em frente, empolgado, a desfiar nomes: Lobato, Bandeira, Almeida. Mencionou até o mestre Drummond. Ali, ele me desafiou a ler “Toda Poesia” de Leminski e, com uma ironia sutil, me sugeriu Millôr Fernandes. Me disse que o haicai me ensinaria a ver beleza nas pequenas coisas, aquelas que, ao longo da vida, caem no esquecimento.
Naquela noite, senti a poesia borbulhando dentro de mim, como uma bebida que pede para ser apreciada. Era o que faltava.
O dia seguinte chegou como um clarão. Acordei e, de repente, o mundo parecia mais nítido. O som dos passos, o burburinho da cidade, o canto dos pássaros — tudo se tornava um quadro pintado em sons. O caminhão que parava na porta trouxe-me o eco da infância, o cheiro de meu pai. O telefone tocou, mas eu já não ouvia apenas palavras. Eu ouvia a vida.
Sem demora, empunhei o celular como quem empunha uma caneta e comecei a gravar. Queria capturar a sinfonia invisível do dia a dia, a música que ecoa nas frestas da existência.
Foi quando, sentado na poltrona da sala, envolto naquela sinfonia caseira, o haicai nasceu. Brotou:
*"Cadeira da sala
Ouvidos de cego
Portal para mundos"*
Meu primeiro haicai, meu pequeno portal de sensações, minha janela para o vasto e o imenso, nascido da mais simples e insignificante das coisas.
Ali, naquele instante, entendi a verdade da poesia. Ela não é uma construção ou uma invenção. Ela está no ar, na poeira que se levanta quando a janela se abre. A poesia está ali, invisível e acessível, como o café quente que desce pela garganta.
O haicai nasceu de um café, de uma conversa, de um telefone tocando. Nasceu da observação, da atenção ao pequeno e ao grande. E, como tudo o que é verdadeiro, surgiu do nada para tudo, do pouco para o muito.
Esta é a beleza escondida nas esquinas da vida. Quem tem olhos, vê. Quem tem ouvidos, escuta. E, se tiver sorte, o instante se abre, e a poesia, como o café, vai descer quentinha, fazendo morada na alma.
Até nossa próxima jornada de palavras.
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